A influência do ambiente no comportamento humano e na comunicação interpessoal

A influência do ambiente no comportamento humano e na comunicação interpessoal é um tema que sempre levanta algum tipo de questionamento.

 

Já se perguntou ao olhar ao redor da sua sala de estar o que identifica traços da sua individualidade nela? Como é seu ambiente? O que ele diz sobre você a quem te visita? É notável que o ambiente tem o poder de comunicar e interferir na comunicação dos sujeitos, portanto, saber quais são essas características, como elas te afetam e como utilizar para reforçar a comunicação é essencial para atingir o objetivo da comunicação.

 

Pesquisas realizadas

Mehrabian (1976), pesquisador sobre o comportamento não verbal e autor de diversos livros sobre a temática ensina que reagimos emocionalmente ao ambiente. Essa reação pode ter três características: reações fisiológicas (reações de excitação, ansiedade, estresse, reação de luta e fuga, estimulante), prazer (alegria, satisfação, felicidade), domínio (capazes, importantes e livres pra se movimentar). Essas características podem estar em diferentes intensidades. Aqui citarei seis ambientes em que essas características se manifestam:

 

Formalidade/informalidade: o impacto que a formalidade torna a comunicação interpessoal menos relaxada, mais superficial, menos domínio sobre o ambiente. Para exemplificar pense numa reunião improvisado com amigos e numa reunião de fim de ano com 10 casais, por certo a reunião com os 10 casais será o ambiente mais formal. Já percebeu que até sua postura e linguagem muda de acordo com a formalidade?

 

Conforto/ desconforto: ambiente com características que remetem ao conforto, como tapetes, quadros, cortinas, cores suaves, carpetes, boa acústica, vasos etc. encoraja a ficar relaxado e a vontade, conforme nos mostra Damásio (2012), neurocientista e pesquisador, existe uma relação muito intima e integrada entre corpo e mente, logo o conforto físico favorece o conforto psicológico, o individuo sentira mais acolhido. Isso é essencial onde o tratamento com o outro necessita de colocá-lo em um estado de tranquilidade e acolhimento, como clínicas, consultórios e por que não, entrevista com objetivo de obter informações. O ambiente de sua casa ou trabalho lhe traz essas sensações?

 

Privacidade: estes ambientes são fechados com poucas pessoas e baixa probabilidade de outros entrarem, o banheiro é um bom exemplo, já viu que algumas mulheres entram nos banheiros juntas para poder conversar a vontade sobre algo interessante que viram na balada? Nestes ambientes encoraja a aproximação, conteúdo verbal mais pessoal e específico para aquela pessoa. Por possuir baixa intensidade de reações fisiológicas, a privacidade é importante para uma entrevista forense, é bem complicado querem obter informações pessoais do entrevistado num lugar que tem um “entra e sai” de pessoas a todo o momento, não acha?

 

Familiar/ não familiar: mesmo que você nunca entrou num ambiente ele pode ter objetos e organização que estão associados com ambientes familiares, como por exemplo uma famosa rede de fast-food que além do ambiente ter mesas como a das casas privativas, as cores também são minuciosamente pensadas para que você mesmo no outro lado do país se sentir no mesmo estabelecimento local que você ia no fim de semana. Um ambiente não familiar modula nosso comportamento para mais cauteloso, estudando cada movimento, e assumindo uma atitude mais convencional, com rituais de etiqueta e hesitante. Nestes locais é comum as pessoas perguntarem sobre o próprio ambiente: “você já veio aqui antes?” a fim de estabelecer um processo de familiarização e identificação com o local. E você como reage em ambientes não-familiares?

 

Constrição/liberdade: já entrou em algum lugar que parece um labirinto? Quanto maior a constrição maior é a dificuldade para sair dele, escolas, hospitais e principalmente presídios são bons exemplos disso. Nos ambientes de liberdade, temos a opção de escolher onde ficar e quando desejar sair é simples ausentar-se. Recentemente na pandemia houve momentos de lockdown portanto nosso ambiente de liberdade (geralmente), nossa casa, se tornou um ambiente de constrição, essa mudança psicológica do ambiente aumentou a reação fisiológica a ele, não é à toa que houve altos índices de crises de ansiedade e depressão nesse período de reclusão social. Como foi para você este período?

 

Distância/ proximidade: as distancias que ficamos das outras pessoas podem ser induzidas pelo ambiente, imagina só, um elevador ou um transporte publico lotado! Ficamos próximos de desconhecidos forçosamente, já que nesse ambiente não há como se afastar, o nível de excitabilidade é altíssimo e fugimos pelo distanciamento psicológico ao fazer a famosa cara de paisagem, uma postura com tônus muscular tensa, sorrisos amarelos (sociais), silencio ou falar em tom alto fazendo comentários públicos. Existe um campo teórico que se baseia em estudar apenas as distâncias entre as pessoas, a Proxêmica, este tema é riquíssimo e abordaremos futuramente sobre.

 

Outras influências do ambiente

 

Não só a estrutura física que provoca reações nos seres humanos, mas há também influencia do clima, do tempo, da presença de outras pessoas e da arquitetura do ambiente.

 

Sobre a percepção de tempo é comum que pareça que passe mais rápido onde estamos confortáveis e engajados, mas tem elementos do tempo sobre objetos: aquela cadeira sempre esteve ali? E elementos de tempo sobre qualidades das pessoas: ele é tão pontual! Ela vive atrasada! Além disso o padrão de tempo dos movimentos corporais é algo importante para estabelecer rapport, ou seja, conexão.

 

O clima também modifica nossas reações emocionais, ele é como uma pré-condição para sentir mais ou menos uma emoção. Por exemplo em climas tropicais há uma procura maior por lazer e bens, enquanto em climas frios, uma busca maior por garantir comida e planejamento futuro arraigado na cultura. A pressão atmosférica, temperatura, fases da lua podem influenciar os comportamentos, mas lembre-se o ambiente é apenas uma variável dentro de várias outras que combinadas podem modificar o comportamento, logo não assuma uma relação fatalista entre ambiente e comportamento.

 

A presença de outras pessoas é amplamente debatida no arcabouço dos estudos da comunicação não-verbal, mas aqui citarei dois relativos ao comportamento competitivo e performance mental:

 

  1. Quando a tarefa é manual e automatizada, a presença de outras pessoas alavanca a competição inconscientemente, imagine aí uma linha de produção com tarefas especificas e simples de cada individuo como apertar um parafuso.
  2. Quando a tarefa exige um pensamento mais complexo, os grupos podem provocar uma letargia em relação a tarefa individualizada, porém cabe ressaltar que em grupos há maior troca e surgimentos de ideias e potencial para inovação.

E por fim a arquitetura, como vimos os espaços físicos possuem a capacidade de engajar nossas emoções e existem características que são fixas no ambiente, como estrutura, paredes; e características semifixas como cadeiras, mesas, cores etc.

 

Como conclusão cabe ressaltar que o ambiente é apenas uma variável e que sozinha seu efeito é pequeno, mas em combinação pode ser altamente influenciadora. Reconhecer essa influência pode ajudar a atingir a meta da comunicação ou criar alternativas para amenizar seu impacto desagradável. E como Skinner (1971), o pai do behaviorismo, disse, somos produtos do ambiente e se queremos mudança no ambiente, precisamos aprender a controlar o ambiente em que interagimos.

 

Quer saber mais sobre comportamento humano e análise aplicada ao contexto forense? Acesse: www.cursodelinguagemcorporal.com

 

Referências

Damásio, António. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. Editora Companhia das Letras, 2012.

Skinner, B. F. Beyond freedom and dignity. Nova York: Alfred A. Knopf, 1971.

Mehrabian, A. Public places and private spaces. Nova York: Basic Books, 1976.

Anderson Carvalho

Perito em Análise de Credibilidade, especialista em entrevista investigativa e análise de Microexpressões faciais. Coordenador da Pós Graduação em Perícia Forense em Análise de Credibilidade e Inteligência Investigativa. Professor de Entrevista Interrogatório Estratégico e Análise de Credibilidade na Pós-Graduação em Tribunal do Júri. Graduado em Perícia Forense e Investigação Criminal, Pós- Graduando em Boas Práticas de Entrevista Investigativa. Pós-graduando em Ciências Criminais. Professor de Entrevista Investigativa na Formação de Peritos em Análise de Credibilidade na Academia Internacional de Linguagem Corporal. Perito em Expressões Faciais FACS (Facial Action Coding System), METT e SETT pelo renomado Paul Ekman Group. Especialização em Codificação Científica pelo FM-G (Portugal) Coordenador do HEP - Hub de Excelência Pericial. Assistente técnico com dezenas de atuações na área criminal.

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