Reality Monitoring: Técnica de Análise de Credibilidade e Memórias em Investigações Forenses

Reality Monitoring: Técnica de Análise de Credibilidade e Memórias em Investigações Forenses

O Reality Monitoring (RM), ou Monitoramento da Realidade, é uma técnica de análise de credibilidade que ajuda a diferenciar memórias baseadas em eventos reais de memórias fabricadas ou criadas pela mente. Esse método é amplamente utilizado em investigações forenses, depoimentos e contextos clínicos, visando a garantir a precisão e a veracidade das memórias relatadas. Com base em critérios objetivos, o RM verifica detalhes sensoriais e emocionais, sendo um recurso valioso na investigação de casos criminais e na psicologia forense.

O que é Reality Monitoring?

O Reality Monitoring surgiu a partir de estudos da psicologia cognitiva, com o objetivo de diferenciar experiências reais das fabricadas, ou seja, de verificar se uma lembrança tem origem em um evento verdadeiro ou imaginário. O método foi inicialmente desenvolvido por Johnson e Raye (1981), que definiram critérios específicos para analisar a origem das memórias, como detalhamento sensorial e coerência de contexto (JOHNSON; RAYE, 1981).

De acordo com a teoria do RM, memórias reais incluem descrições sensoriais detalhadas (como sons, cores, cheiros) e emoções consistentes com a situação vivida, enquanto memórias fabricadas são vagas e com menos riqueza sensorial e emocional (JOHNSON; HASHER, 1987). Essa técnica ajuda a evitar que relatos fabricados ou distorcidos impactem decisões judiciais e investigações criminais.

Como Funciona o Reality Monitoring na Prática?

O Reality Monitoring é uma ferramenta prática de análise forense, e sua aplicação envolve a observação de critérios específicos para identificar a autenticidade das memórias:

  1. Detalhamento Sensorial: Memórias verdadeiras incluem mais detalhes sensoriais, como sons, cheiros e imagens vívidas.
  2. Contexto Temporal e Espacial: Experiências reais têm coerência com o ambiente e o tempo onde ocorreram. Isso ajuda a situar a memória em um local e horário específico.
  3. Emoções Autênticas: Eventos reais evocam emoções intensas e congruentes, enquanto memórias fabricadas carecem de profundidade emocional.
  4. Pensamentos e Reflexões: Em memórias reais, a pessoa tende a lembrar dos pensamentos que teve durante o evento, como sentimentos de medo ou estratégias de autopreservação.

Esses critérios guiam a análise e ajudam a determinar a origem da memória, especialmente em contextos onde a análise de credibilidade é fundamental, como em investigações criminais.

Exemplo Prático de Reality Monitoring

Imagine que uma pessoa relata um assalto. Se o relato incluir sensações físicas intensas, como o “frio na espinha” e o som de passos rápidos, e descrever o contexto com precisão (local e horário), isso indica uma memória autêntica. Já em memórias fabricadas, é comum que esses detalhes sensoriais estejam ausentes ou sejam inconsistentes.

Profissionais que Utilizam o Reality Monitoring

O Reality Monitoring é aplicado por diversos profissionais em áreas onde a veracidade de relatos é essencial:

  • Psicólogos Forenses: Utilizam o RM em contextos clínicos para distinguir entre traumas reais e memórias fabricadas, especialmente em casos onde o paciente pode ter sido influenciado por falsas lembranças.
  • Peritos e Investigadores Criminais: Utilizam o RM para validar depoimentos e analisar a credibilidade de testemunhas em investigações. O método ajuda a evitar erros judiciais e condenações baseadas em memórias distorcidas.
  • Juízes e Advogados: No sistema legal, o RM auxilia na avaliação da veracidade de relatos, contribuindo para uma análise mais precisa em processos judiciais.

Países que Aplicam o Reality Monitoring

O RM é amplamente utilizado em países com sistemas de investigação forense avançados, como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. No Brasil, o RM é cada vez mais utilizado em investigações criminais, especialmente por peritos em análise de credibilidade, que utilizam a técnica para avaliar depoimentos em casos de alta complexidade (ANDERSON, 2017).

Limitações do Reality Monitoring

Apesar da eficácia, o Reality Monitoring apresenta algumas limitações importantes:

  • Subjetividade da Análise: Como o RM depende da interpretação dos profissionais, existe o risco de vieses e julgamentos incorretos, o que pode afetar o resultado da análise (WIMMER; BLACK, 2005).
  • Lacunas em Memórias Reais: Memórias reais nem sempre são completas e detalhadas; muitas vezes, detalhes podem ser esquecidos ou imprecisos, o que pode comprometer a análise.
  • Influência de Fatores Emocionais: Fatores como estresse, medo ou tempo decorrido desde o evento podem impactar a riqueza sensorial das memórias, gerando inconsistências (DEHON; BREE, 2007).
  • Confusão com Falsas Memórias Detalhadas: Em alguns casos, uma memória fabricada pode ser rica em detalhes, dificultando a análise. Esses falsos detalhes podem ser criados por influências externas ou sugestões.

Conclusão

O Reality Monitoring é uma técnica avançada e útil na análise de credibilidade e verificação de memórias, sendo amplamente utilizado por profissionais em áreas como investigação criminal e psicologia forense. Embora tenha limitações, o RM é essencial para distinguir entre memórias reais e fabricadas, contribuindo para a precisão de relatos e depoimentos em contextos judiciais.

No entanto, é importante que o RM seja aplicado com cautela e, preferencialmente, combinado com outras técnicas de análise para garantir a máxima precisão e evitar vieses.

Referências

  • JOHNSON, M. K.; RAYE, C. L. Reality Monitoring. Psychological Review, v. 88, p. 67-85, 1981.
  • JOHNSON, M. K.; HASHER, L. False Memories in Eyewitness Testimonies. Memory and Cognition, v. 15, p. 56-62, 1987.
  • WIMMER, H.; BLACK, P. Investigative Interviewing Techniques and Their Cognitive Impacts. Journal of Applied Psychology, v. 90, p. 120-132, 2005.
  • DEHON, H.; BREE, S. The Effects of Emotional Intensity on Reality Monitoring. Journal of Cognitive Psychology, v. 21, p. 502-513, 2007.
  • ANDERSON, C. Protocols in Forensic Testimonies: Applications and Limitations of Reality Monitoring. Brazilian Journal of Forensic Psychology, v. 9, p. 50-67, 2017.

Anderson Carvalho

Perito em Análise de Credibilidade, especialista em entrevista investigativa e análise de Microexpressões faciais. Coordenador da Pós Graduação em Perícia Forense em Análise de Credibilidade e Inteligência Investigativa. Professor de Entrevista Interrogatório Estratégico e Análise de Credibilidade na Pós-Graduação em Tribunal do Júri. Graduado em Perícia Forense e Investigação Criminal, Pós- Graduando em Boas Práticas de Entrevista Investigativa. Pós-graduando em Ciências Criminais. Professor de Entrevista Investigativa na Formação de Peritos em Análise de Credibilidade na Academia Internacional de Linguagem Corporal. Perito em Expressões Faciais FACS (Facial Action Coding System), METT e SETT pelo renomado Paul Ekman Group. Especialização em Codificação Científica pelo FM-G (Portugal) Coordenador do HEP - Hub de Excelência Pericial. Assistente técnico com dezenas de atuações na área criminal.

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